por Osvaldo Coggiola
PORTUGUÊS - ITALIANO - ENGLISH
Após a publicação do meu artigo sobre «Papa Francisco: especialista em genocídios», recebi muitos comentários: muitos mais do que o habitual, como prova de que o tema é realmente quente. O mais agradável, no entanto, foi o que recebi do querido amigo e companheiro Osvaldo Coggiola (autor do livro que publiquei sobre o Trotskismo na América Latina), que, embora argentino e tendo vivido por muitos anos na Itália, agora é definitivamente brasileiro. Osvaldo me enviou o longo artigo que escreveu em português, publicado pela Boitempo Editorial e em italiano pela revista La Contraddizione, em novembro de 2013. Ele, contente que a parte sobre Bergoglio agora seja retomada pela Utopia Rossa, eu a extraí e estou igualmente feliz em permitir um aprofundamento sobre o tema da cumplicidade que Bergoglio teve com o genocídio geracional ocorrido na Argentina.
(r.m.)
Dopo la pubblicazione del mio articolo su «Papa Francesco: esperto in genocidi», ho ricevuto molti commenti: molti più del solito, a riprova che il tema è davvero scottante. Il più gradito, però, l’ho ricevuto dal caro amico e compagno Osvaldo Coggiola (autore del libro da me pubblicato su Il trotskismo in America latina) che, benché argentino vissuto per molti anni in Italia, è ormai definitivamente diventato brasiliano. Osvaldo mi ha inviato il lungo articolo che scrisse in portoghese che fu pubblicato da Boitempo Editorial e in italiano dalla rivista La Contraddizione, nel novembre 2013. Essendo egli contento che la parte su Bergoglio venga ora ripresa da Utopia rossa, io l’ho estratta e sono a mia volta contento di poter consentire un approfondimento sul tema del rapporto di complicità che Bergoglio ebbe con il genocidio generazionale svoltosi in Argentina.
(r.m.)
After the publication of my article on "Pope Francis: Expert in Genocides," I received numerous comments—far more than usual, proving how controversial this subject is. However, the most appreciated came from my dear friend and comrade Osvaldo Coggiola (author of the book I published on Trotskyism in Latin America), who, although an Argentine who lived for many years in Italy, has definitively become Brazilian. Osvaldo sent me the long article he wrote in Portuguese, published by *Boitempo Editorial* and in Italian by the magazine La Contraddizione in November 2013. Since he is happy for the section on Bergoglio to be revisited in Utopia Rossa, I have extracted it, and I am equally pleased to enable a deeper exploration of the relationship of complicity Bergoglio had with the generational genocide that took place in Argentina.
(r.m.)
PORTUGUÊS
Em março de 1976, quando da instauração na Argentina de uma das mais sangrentas ditaduras militares da América Latina, Jorge Mario Bergoglio ainda não havia cumprido 40 anos, mas já era “Provincial” (chefe) da Ordem dos Jesuítas no país. Nenhuma fotografia dos anos sucessivos testemunha diretamente qualquer proximidade entre ele e a Junta Militar, diversamente das que evidenciam a enorme proximidade entre a alta hierarquia católica (à qual Bergoglio ainda não pertencia) e o time de assassinos profissionais governante. Bergoglio, porém, longe esteve de se opor à linha seguida pela Igreja de Roma (não só na Argentina, mas em toda a América do Sul atingida por regimes contrarrevolucionários ferozes) [...].
Seu cúmplice [de las Forças Armadas] na tarefa mortífera foi a Igreja Católica, que na Argentina sempre foi um bastião da oligarquia dominante a ponto de Perón ter sido excomungado no seu primeiro governo (1946-1955) e os tanques do golpe de 1955 terem sido pintados com cruzes e a frase “Cristo vence!”. Na Argentina o catolicismo ainda é religião oficial e o Estado paga os salários do clero com o dinheiro público. Até recentemente, a principal cerimônia de comemoração da independência nacional era uma missa na catedral. Encarregada em 1976 pelos militares do ministério da educação, com Ricardo Bruera, a Igreja promoveu o pior processo educacional obscurantista já conhecido na Argentina (a teoria dos conjuntos, por exemplo, foi banida do ensino escolar da matemática, por partir de um “princípio comunista”). Monsenhor Plaza (arcebispo de La Plata) distribuía crucifixos nos campos de extermínio (onde os detidos sofriam as piores torturas antes de serem mortos), enquanto Monsenhor Bonamin (capelão do Exército) benzia os “grupos de tarefa” encarregados de sequestrar, torturar e matar; não faltando os que, como o padre e capelão militar Christian Von Wernich, hoje condenado pela justiça, montaram um lucrativo comércio de venda de informações (falsas) aos desesperados parentes dos desaparecidos.
Trinta e cinco anos depois dos fatos, o cardeal argentino Primatesta referiu-se a uma carta de “Emilio Mignone, padre de la detenida-desaparecida Mónica Candelaria Mignone, y una de las más altas personalidades laicas del catolicismo argentino. Mignone había sido ministro de Educación en la provincia de Buenos Aires en la década de 1940 y viceministro de Educación nacional en la de 1960. El fundador del CELS [Mignone] le escribió a Primatesta que el sistema del secuestro, el robo, la tortura y el asesinato, “agravado con la negativa a entregar los cadáveres a los deudos, su eliminación por medio de la cremación o arrojándolos al mar o a los ríos o su sepultura anónima en fosas comunes” se realizaba en nombre de “la salvación de la ‘civilización cristiana’, la salvaguardia de la Iglesia Católica”. Agregó que la desesperación y el odio iban ganando muchos corazones”. A um jornalista espanhol, Videla disse: “Mi relación con la Iglesia Católica fue excelente, muy cordial, sincera y abierta”, porque “fue prudente, no creó problemas ni siguió la “tendencia izquierdista y tercermundista” de otros Episcopados”. Condenava “algunos excesos”, mas “sin romper relaciones”. Con Primatesta, até “llegamos a ser amigos”. A Igreja Católica argentina, portanto, sabia, calou, ocultou e até deu a benção (ao genocídio) […].