por Osvaldo Coggiola
PORTUGUÊS - ITALIANO - ENGLISH
Após a publicação do meu artigo sobre «Papa Francisco: especialista em genocídios», recebi muitos comentários: muitos mais do que o habitual, como prova de que o tema é realmente quente. O mais agradável, no entanto, foi o que recebi do querido amigo e companheiro Osvaldo Coggiola (autor do livro que publiquei sobre o Trotskismo na América Latina), que, embora argentino e tendo vivido por muitos anos na Itália, agora é definitivamente brasileiro. Osvaldo me enviou o longo artigo que escreveu em português, publicado pela Boitempo Editorial e em italiano pela revista La Contraddizione, em novembro de 2013. Ele, contente que a parte sobre Bergoglio agora seja retomada pela Utopia Rossa, eu a extraí e estou igualmente feliz em permitir um aprofundamento sobre o tema da cumplicidade que Bergoglio teve com o genocídio geracional ocorrido na Argentina.
(r.m.)
Dopo la pubblicazione del mio articolo su «Papa Francesco: esperto in genocidi», ho ricevuto molti commenti: molti più del solito, a riprova che il tema è davvero scottante. Il più gradito, però, l’ho ricevuto dal caro amico e compagno Osvaldo Coggiola (autore del libro da me pubblicato su Il trotskismo in America latina) che, benché argentino vissuto per molti anni in Italia, è ormai definitivamente diventato brasiliano. Osvaldo mi ha inviato il lungo articolo che scrisse in portoghese che fu pubblicato da Boitempo Editorial e in italiano dalla rivista La Contraddizione, nel novembre 2013. Essendo egli contento che la parte su Bergoglio venga ora ripresa da Utopia rossa, io l’ho estratta e sono a mia volta contento di poter consentire un approfondimento sul tema del rapporto di complicità che Bergoglio ebbe con il genocidio generazionale svoltosi in Argentina.
(r.m.)
After the publication of my article on "Pope Francis: Expert in Genocides," I received numerous comments—far more than usual, proving how controversial this subject is. However, the most appreciated came from my dear friend and comrade Osvaldo Coggiola (author of the book I published on Trotskyism in Latin America), who, although an Argentine who lived for many years in Italy, has definitively become Brazilian. Osvaldo sent me the long article he wrote in Portuguese, published by *Boitempo Editorial* and in Italian by the magazine La Contraddizione in November 2013. Since he is happy for the section on Bergoglio to be revisited in Utopia Rossa, I have extracted it, and I am equally pleased to enable a deeper exploration of the relationship of complicity Bergoglio had with the generational genocide that took place in Argentina.
(r.m.)
PORTUGUÊS
Em março de 1976, quando da instauração na Argentina de uma das mais sangrentas ditaduras militares da América Latina, Jorge Mario Bergoglio ainda não havia cumprido 40 anos, mas já era “Provincial” (chefe) da Ordem dos Jesuítas no país. Nenhuma fotografia dos anos sucessivos testemunha diretamente qualquer proximidade entre ele e a Junta Militar, diversamente das que evidenciam a enorme proximidade entre a alta hierarquia católica (à qual Bergoglio ainda não pertencia) e o time de assassinos profissionais governante. Bergoglio, porém, longe esteve de se opor à linha seguida pela Igreja de Roma (não só na Argentina, mas em toda a América do Sul atingida por regimes contrarrevolucionários ferozes) [...].
Seu cúmplice [de las Forças Armadas] na tarefa mortífera foi a Igreja Católica, que na Argentina sempre foi um bastião da oligarquia dominante a ponto de Perón ter sido excomungado no seu primeiro governo (1946-1955) e os tanques do golpe de 1955 terem sido pintados com cruzes e a frase “Cristo vence!”. Na Argentina o catolicismo ainda é religião oficial e o Estado paga os salários do clero com o dinheiro público. Até recentemente, a principal cerimônia de comemoração da independência nacional era uma missa na catedral. Encarregada em 1976 pelos militares do ministério da educação, com Ricardo Bruera, a Igreja promoveu o pior processo educacional obscurantista já conhecido na Argentina (a teoria dos conjuntos, por exemplo, foi banida do ensino escolar da matemática, por partir de um “princípio comunista”). Monsenhor Plaza (arcebispo de La Plata) distribuía crucifixos nos campos de extermínio (onde os detidos sofriam as piores torturas antes de serem mortos), enquanto Monsenhor Bonamin (capelão do Exército) benzia os “grupos de tarefa” encarregados de sequestrar, torturar e matar; não faltando os que, como o padre e capelão militar Christian Von Wernich, hoje condenado pela justiça, montaram um lucrativo comércio de venda de informações (falsas) aos desesperados parentes dos desaparecidos.
Trinta e cinco anos depois dos fatos, o cardeal argentino Primatesta referiu-se a uma carta de “Emilio Mignone, padre de la detenida-desaparecida Mónica Candelaria Mignone, y una de las más altas personalidades laicas del catolicismo argentino. Mignone había sido ministro de Educación en la provincia de Buenos Aires en la década de 1940 y viceministro de Educación nacional en la de 1960. El fundador del CELS [Mignone] le escribió a Primatesta que el sistema del secuestro, el robo, la tortura y el asesinato, “agravado con la negativa a entregar los cadáveres a los deudos, su eliminación por medio de la cremación o arrojándolos al mar o a los ríos o su sepultura anónima en fosas comunes” se realizaba en nombre de “la salvación de la ‘civilización cristiana’, la salvaguardia de la Iglesia Católica”. Agregó que la desesperación y el odio iban ganando muchos corazones”. A um jornalista espanhol, Videla disse: “Mi relación con la Iglesia Católica fue excelente, muy cordial, sincera y abierta”, porque “fue prudente, no creó problemas ni siguió la “tendencia izquierdista y tercermundista” de otros Episcopados”. Condenava “algunos excesos”, mas “sin romper relaciones”. Con Primatesta, até “llegamos a ser amigos”. A Igreja Católica argentina, portanto, sabia, calou, ocultou e até deu a benção (ao genocídio) […].
O low profile de Bergoglio nesse período merece uma elucidação. Jorge Mario Bergoglio, filho de um casal de imigrantes italianos, nasceu e foi criado no bairro de Flores, Buenos Aires. Fez graduação e mestrado em química na Universidade de Buenos Aires. Durante a sua adolescência, teve uma namorada, Amalia. Ingressou no noviciado da Companhia de Jesus em março de 1958, e o completou em Santiago, capital do Chile. Graduou-se em Filosofia em 1960, na Universidade Católica de Buenos Aires. Entre os anos 1964 e 1966, ensinou Literatura e Psicologia, no Colégio Imaculada Concepção, na Província de Santa Fé, e na Universidade do Salvador, em Buenos Aires (um centro histórico – e privado – da reação política). Graduou-se em teologia em 1969, e recebeu a ordenação presbiteral em dezembro desse ano. “1969” é mais do que significativo, pois foi o ano do início das insurreições populares contra a ditadura militar de Onganía, começadas em Córdoba (“cordobazo”).
Por esses anos, o já destacado jesuíta hoje Papa andou vinculado à Guardia de Hierro, grupo peronista que, no quadro da efervescência social reinante, se opunha à esquerda peronista (Montoneros, Juventude Peronista e outros) que propunha a luta armada, e também às tendências cristãs (Cristianismo y Revolución, ou o Movimento de Sacerdotes pelo Terceiro Mundo, cujo principal representante, o padre Mugica, foi assassinado pela direita peronista, a já mencionada Triple A, financiada por Licio Gelli e a Loja P2) que convergiam com aquela, tendências que percorriam a Igreja na América Latina, seguindo o exemplo do padre-guerrilheiro Camilo Torres (com destaque para a “Teologia da Libertação”, nascida no Peru e desenvolvida no Brasil). As convicções políticas do futuro Papa se alicerçaram nessa experiência de combate laico e religioso contra a esquerda.
Bergoglio emitiu seus votos na Companhia de Jesus em 1973, quando foi nomeado Mestre de Noviços, no Seminário da Villa Barilari. No mesmo ano foi eleito superior provincial dos jesuítas. Em 1980, após o período do provincialato passou a ensinar em uma escola dos jesuítas. No período de 1980 a 1986 foi reitor da Faculdade de Filosofia e Teologia de San Miguel, concedendo honrarias acadêmicas (doutorado honoris causa) a membros da mais alta cúpula militar da ditadura, incluído o assassino e mafioso Emílio Eduardo Massera. Após seu doutorado na Alemanha, foi confessor e diretor espiritual em Córdoba. Guardia de Hierro, com a qual Bergoglio continuou vinculado, cultivava boas relações com Massera.
Segundo Alejandro Tarruella, “Jorge Bergoglio se vinculó a los miembros de GH a partir de su participación en la Universidad del Salvador. En 1975 Bergoglio nombró en la universidad a dos miembros de GH: Francisco “Cacho” Piñón y a Walter Romero. Piñón fue quién le entregó en el año 1977 la designación de Profesor Honoris Causa al almirante Emilio Eduardo Massera”.
O falecido Massera tinha concebido um plano para transformar-se no herdeiro político de Perón no pós-ditadura, chegando a publicar livros falsamente assinados por ele e um periódico, para o qual usou os serviços compulsórios de detidos-desaparecidos da ESMA, depois massacrados (com seus cadáveres também sumidos), plano afundado pela degringolada militar de 1982-1983. Bergoglio seria necessariamente peça política dessa frustrada movida, esboçada no momento de glória da ditadura dos “assassinos de Deus”.
No longo período civil de acerto de contas com as barbaridades militares, Bergoglio, já cardeal, foi denunciado em 2005 por conexões com o sequestro dos padres jesuítas Orlando Virgilio Yorio e Francisco Jalics, acontecido em 23 de maio de 1976, quando trabalhavam sob o comando de Bergoglio, desempenhando tarefas junto a populações humildes do Bajo Flores. Bergoglio expulsou os dois da Ordem dos Jesuítas. A denúncia contra ele se baseou artigos jornalísticos e o livro Igreja e Ditadura, escrito por Emilio Mignone, uma autoridade indiscutida na matéria. Outro livro, La Isla del Silencio, referido a uma propriedade situada numa ilha que foi cedida pela Igreja às Forças Armadas para servir como campo de extermínio, do conhecido jornalista Horacio Verbitsky, também fez referência às ligações de Bergoglio com a ditadura: “[Bergoglio] vai à Chancelaria, pede um trâmite em favor do sacerdote [Jalics], mas, por baixo do pano, diz para não o concederem porque se trata de um subversivo”. Francisco Jalics desmentiu as acusações, em declaração publicada no site da ordem jesuíta alemã: “O missionário Orlando Yorio e eu mesmo não fomos denunciados pelo padre Bergoglio”, o que não desmente nada do afirmado por Mignone e Verbitsky.
Sergio Rubin, seu biógrafo autorizado, relatou que Bergoglio, após a desaparição dos dois sacerdotes (que Rubin, com a maior cara de pau, chama de “prisão”) trabalhou nos bastidores para a sua libertação e intercedeu, de forma privada e pessoal, junto ao ditador Jorge Rafael Videla. Não era, certamente, qualquer um que podia “interceder privada e pessoalmente” junto a esse psicopata, e menos ainda por desaparecidos. Rubin também relatou que Bergoglio deu abrigo a pessoas perseguidas pela ditadura em propriedades da Igreja, chegando a dar seus próprios documentos de identidade a um homem que se parecia com ele, para que pudesse fugir da Argentina. Bem, militares altamente implicados na repressão também agiram para salvar algumas pessoas que lhes eram próximas, parentes incluídos. O vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 1980, Adolfo Pérez Esquivel, também refutou (ou melhor, tentou refutar) as acusações referentes ao atual Papa Francisco. Esquivel afirmou que “alguns bispos foram cúmplices do regime [alguns?], mas não foi o caso de Bergoglio”, coisa que ele não pode saber, a não ser que o próprio Esquivel contasse com cumplicidades duvidosas. Estela de la Cuadra, irmã de Orlando Yorio, bem mais próxima aos fatos imputados, afirmou em entrevista que “a Igreja Católica escolheu uma pessoa que foi cúmplice de um regime genocida”…
* * *
A operação montada para “limpar a barra” do agora modesto Francisco I impressiona e inclui várias respeitabilidades oficiais, como Pérez Esquivel. Paulo Suess, em artigo publicado no site do “Instituto Humanitas Unisinos” (cristão) resumiu:
“Bergoglio e sua Igreja argentina não mostraram atitudes proféticas durante a ditadura militar (1976-1983) como aconteceu em outras igrejas latino-americanas. Nessa época, Bergoglio ainda não era bispo, mas provincial dos jesuítas da Argentina (1973-1979). Como provincial expulsou dois jovens jesuítas – Orlando Virgílio Yorio e Francisco Jalics – da Companhia de Jesus e dificultou a sua recepção na diocese de Moron dirigida pelo salesiano Miguel Raspanti. Entre expulsão e trâmites de recepção, dia 23 de maio de 1976, Yorio e Jalics foram sequestrados pelas forças militares, torturados e, meio ano mais tarde, expatriados. A sincronização entre expulsão e sequestro dos dois ex-jesuítas indica certo entendimento entre autoridade eclesiástica e militar. Definitivamente provado não foi” (grifo nosso).
Certamente, muitas outras coisas não puderam ser provadas nessa repressão ilegal, secreta e indocumentada. Mas as evidências existem para quem não quiser ser cego.
Cinco testemunhos, oferecidos de forma espontânea, confirmaram o papel de Jorge Mario Bergoglio na repressão do governo militar, inclusive sobre as fileiras progressistas da Igreja Católica que ele hoje preside: uma teóloga que durante décadas deu catequese em colégios do bispado de Morón, o ex-superior de uma fraternidade sacerdotal que foi dizimada pelos desaparecimentos forçados, um integrante da mesma fraternidade que denunciou os casos ao Vaticano, um sacerdote, e um leigo, que foram sequestrados e torturados. Dois meses depois do golpe militar de 1976, o bispo de Morón, Miguel Raspanti, tentou proteger os sacerdotes Orlando Yorio e Francisco Jalics porque temia que fossem sequestrados, mas Bergoglio se opôs, segundo a ex-professora de catequese em colégios da diocese de Morón, Marina Rubino, que nessa época estudava teologia no Colégio Máximo de San Miguel, onde Bergoglio vivia. Ela havia sido aluna de Yorio e Jalics e sabia do risco que eles corriam: eles foram sequestrados, como dito, no dia 23 de maio de 1976 e conduzidos à Escola de Mecânica da Armada, onde um especialista em assuntos eclesiásticos lhes interrogou. Em um dos interrogatórios, perguntou-lhe sobre os seminaristas Carlos Antonio Di Pietro e Raúl Eduardo Rodríguez. Ambos eram colegas de Marina Rubino no curso de teologia de San Miguel e desenvolviam trabalhos sociais num bairro popular, de onde foram sequestrados dez dias depois que os dois jesuítas, a 4 de junho de 1976, e levados para a mesma “casa operativa” que Yorio e Jalics.
Alejandro Dausa, que em 3 de agosto de 1976 foi sequestrado em Córdoba, quando era seminarista da Ordem dos Missionários de Nossa Senhora de La Salette, depois de seis meses nos quais foi torturado pela polícia no Departamento de Inteligência D2, pôde viajar para os Estados Unidos, onde encontrou o responsável do seminário. Este era o sacerdote norte-americano James Weeks. Ao chegar aos EUA, soube que Jalics se encontrava em Cleveland, na casa de uma irmã. Em dois retiros espirituais, realizados em 1977 em Altamont (Nova York) e em Ipswich (Massachusetts), conversaram entre si. Dausa lembrou: “Como é natural, conversamos sobre os sequestros respectivos, detalhes características, antecedentes, sinais prévios, pessoas envolvidas etc. Nessas conversas, ele nos indicou que Bergoglio os havia entregue e denunciado”.
Na década seguinte, Alejandro Dausa trabalhava como padre na Bolívia e participava dos retiros anuais da La Salette na Argentina. Em um deles, os organizadores convidaram Orlando Yorio, que nessa época trabalhava em Quilmes: “O retiro foi em Carlos Paz, Córdoba, e também nesse caso conversamos sobre a experiência do sequestro. Orlando indicou o mesmo que Jalics sobre a responsabilidade de Bergoglio”. Orlando Yorio morreu em agosto de 2000 em Montevidéu, no Uruguai.
O fundador da fraternidade leiga dos “Irmãozinhos do Evangelho Charles de Foucauld”, Roberto Scordato, aceitou narrar que entre o fim de outubro e o começo de novembro de 1976 se reuniu em Roma com o cardeal Eduardo Pironio, que era prefeito da Congregação para os Religiosos do Vaticano, e lhe comunicou o nome de um sacerdote da comunidade jesuíta de San Miguel que participava das sessões de tortura no quartel de Campo de Mayo com o papel de “amolecer espiritualmente” os detidos. Scordato pediu-lhe que transmitisse o fato ao superior geral Pedro Arrupe. O mesmo caminho foi seguido por um dos detidos na batida policial do bairro popular La Manuelita, o médico Lorenzo Riquelme. Quando recuperou sua liberdade, em comunicações com quem era então o superior dos Irmãozinhos do Evangelho, Patrick Rice, Riquelme disse que quem o denunciou foi um jesuíta do Colégio de San Miguel, que era capelão do Exército, convencido de que esse sacerdote presenciou as torturas que lhe foram aplicadas em Campo de Mayo. Rice, que também foi sequestrado e torturado nesse ano, disse que isso não teria sido possível sem a aprovação do padre provincial (Bergoglio). As evidências, portanto, sobram.
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Durante o período da democracia, Bergoglio prosseguiu, sem ser inicialmente incomodado por seu passado comprometedor (como aconteceu com muitos outros), sua carreira político-religiosa. Distinguiu-se como porta-voz das principais campanhas reacionárias encabeçadas pela Igreja Católica argentina, contra a lei do divórcio e contra o aborto legal, entre outras. Foi o principal opositor à legislação argentina que permitiu o casamento entre pessoas do mesmo sexo, tendo dito que:
“Se o projeto de lei que prevê às pessoas do mesmo sexo a possibilidade de se unirem civilmente e adotarem também crianças vier a ser aprovado, poderia ter efeitos seriamente danosos sobre a família. O povo argentino deverá afrontar nas próximas semanas uma situação que, caso tenha êxito, pode ferir seriamente a família. Está em jogo a identidade e a sobrevivência da família: pai, mãe e filhos. Não devemos ser ingénuos: essa não é simplesmente uma luta política, mas é um atentado destrutivo contra o plano de Deus [sic]”.
Em maio de 1992, o Papa João Paulo II o nomeou bispo auxiliar de Buenos Aires. Sua ordenação episcopal deu-se em junho de 1992. Em 3 de junho de 1997, foi nomeado arcebispo coadjutor de Buenos Aires. Tornou-se arcebispo metropolitano de Buenos Aires em fevereiro de 1998. Foi depois nomeado ordinário para os fiéis de rito oriental por João Paulo II, em novembro de 1998.
Uma carreira meteórica, garantida pelo favor de Karol Wojtila, que tinha reduzido o teólogo progressista Leonardo Boff e seus partidários ao silentium obsequiosum, e proclamado claramente que “a Igreja católica não é uma democracia”. Como se sabe, João Paulo II combateu firmemente a Teologia da Libertação e outras vertentes progressistas dentro da Igreja ao mesmo tempo em que canonizava o fundador da reacionária Opus Dei e afagava o criminoso pedófilo Marcial Maciel, fundador da ultra-ortodoxa seita dos “Legionários de Cristo”. Silenciou enquanto foi possível sobre as ditaduras militares da América Latina com apoio norte-americano; acobertou as fraudes financeiras pelo Banco do Vaticano junto à Máfia italiana e à CIA, incluindo o tráfico de armas e financiamento de guerrilhas de direita, como revelou o escândalo do Irã-Contras. Protegeu o presidente do mesmo banco, Arcebispo Marcinkus, condenado por cometer fraudes e crimes financeiros, e também suspeito de ser mandante de três assassinatos. Encobriu os casos de pedofilia na Igreja enquanto cobrava dos fiéis que não usassem meios contraceptivos como a pílula e a camisinha, mesmo na época em que surgiu a epidemia pelo HIV, e lutava ativamente contra o reconhecimento das relações homossexuais.
Quando Bergoglio, nos anos 2000, chegou à condição de chefe do episcopado argentino, as relações sociais do país se encontravam em processo de dissolução. Bergoglio considerou positivamente a operação de resgate político do Estado encabeçada pelos Kirchner. Quando a Argentina capitalista se derrubava, Bergoglio convocou a mesa de “diálogo social” onde participou a central sindical CTA para sustentar o governo de Duhalde, que antecedeu Kirchner e estava procedendo a um gigantesco confisco econômico-social. O vice-governador de Buenos Aires, Gabriel Mariotto, o chefe do Movimiento Evita, Emilio Pérsico, qualificaram Bergoglio de “peronista”.
Em 19 de abril de 2005, quando Ratzinger foi eleito sucessor de João Paulo II, a ascensão internacional de Bergoglio já estava bem consolidada (sobretudo ao calor da luta contra as tendências “progressistas” na Igreja) ao ponto de ocupar o segundo lugar na votação do conclave vaticano. Provavelmente, não foi vencedor na ocasião por causa das denúncias que começavam a pesar sobre ele na Argentina: em O Homem que Não Queria Ser Papa, o jornalista alemão Andreas Englisch, correspondente no Vaticano, disse que o medo de eventual cumplicidade com a ditadura tornou o argentino uma escolha insegura para os cardeais. O escolhido, Joseph Ratzinger, fora o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (como foi em 1908 rebatizada a Santa Inquisição), colocado no posto por Wojtila para modelar a doutrina da Igreja.
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A rapidez com que Jorge Bergoglio foi consagrado por um conclave semelhante a uma omertàbuscou tirar a sucessão de Bento do impasse dominado pelo colapso da cúpula vaticana. Antes do conclave todos os analistas escreviam que ele não tinha chances por seu currículo ao menos omisso diante do genocídio argentino. Ao que parece, em novas condições (a crise mundial e a crise da Igreja), foi justamente esse currículo que lhe deu as credenciais para a vitória. “A questão central é a governabilidade”, disse John Allen, biógrafo de Joseph Ratzinger, para explicar a urgência dos cardeais “depois de oito anos de não governo” (sic), aludindo, sem nomeá-la, à massa sem precedentes de delitos, crimes e fraudes de todo tipo que levara à renúncia do papa alemão. Os “informes secretos” que provocaram a fuga de Ratzinger nem sequer foram revelados aos 114 cardeais que deviam eleger seu sucessor. A negativa do Secretário de Estado do Vaticano, Tarcisio Bertone, em entregar os informes secretos os convenceu de que estavam no fim de uma linha. A continuidade do “partido romano” (um quarto do colégio de bispos) ameaçava com a explosão do bordel vaticano, onde – segundo esses informes – operava, entre outros, um “lobby gay”. O candidato brasileiro, Odilio Scherer, foi liquidado como candidato quando tentou uma defesa do IOR, cujas operações e contas foram objetadas pela comissão europeia dedicada ao resgate do sistema bancário. O IOR está falido, esvaziado por operações com a máfia, lavado de dinheiro e negociatas da cúpula romana.
A decomposição do “partido romano” da Igreja afundou outro papabile, o bispo de Milão Angelo Scola, promovido por bispos ianques e alemães. Bergoglio pareceu ter se beneficiado da fúria e do ressentimento sentidos pelos cardeais em relação às rivalidades e lutas internas da Cúria, que tiraram força do tradicionalmente poderoso bloco italiano, quase um quarto dos cardeais, reduzindo as chances do arcebispo de Milão, Angelo Scola, um dos dois favoritos, com Odilio Sherer.
Foi, portanto, uma escolha de crise. Havia uma consciência clara de que se operava no limiar do abismo: um teólogo afirmou que diante da crise da cúria vaticana, “os monumentais templos religiosos do continente poderiam se transformar em museus”. O “populismo” bergogliano, posto em prática desde os primeiros instantes de seu mandato, antecipa uma das variantes que poderiam preencher o “vazio de poder” europeu: o bonapartismo, que na Europa sempre foi o pedestal que antecipou o fascismo. Depois de fracassar com um representante alemão, acertado com a política do Bundesbank, os cardeais buscaram o novo Papa na finisterrae, numa metáfora da bancarrota da UE, a Europa do capital. Hans Kung, líder intelectual do progressismo católico, depois de dizer que não esperava um Gorbachov no Vaticano, acendeu de cara uma vela para Bergoglio. Não foi o único. Cristina Kirchner esqueceu seus atritos recentes com o inimigo do aborto, dos divorciados e dos gays para correr saudar o homem da reação argentina no trono de Pedro. Os “teólogos da libertação”, por sua vez, nem esperaram a visita de Francisco ao Brasil. O jornal oligárquico argentino La Nación, na outra ponta do espectro político, deixou claro que, no rubro “pedofilia”, Francisco “nunca se pronunciou”.
O cardeal Bergoglio foi assim eleito em 13 de março de 2013, no segundo dia do conclave, escolhendo o nome de Francisco. Sua escolha parece ter sido o resultado de um acordo entre os homens da Cúria, especificamente o decano do Colégio dos Cardeais, Angelo Sodano (que não participou do conclave), os cardeais Giovanni Battista Re e Tarcisio Bertone, e os cardeais americanos. Foi o primeiro jesuíta a ser eleito Papa, o primeiro Papa do continente americano, do hemisfério Sul, e o primeiro não europeu investido como bispo de Roma em mais de 1.200 anos, desde Gregório III, que nasceu na Síria e governou a Igreja Católica entre 731 e 741.
A ordem dos jesuítas esperou quase cinco séculos: ela foi reconhecida pelo Vaticano em 1540, em pleno desenvolvimento das cisões protestante e calvinista (Inácio de Loyola, seu fundador, chegou a coexistir na Universidade de Paris com o próprio Jean Calvin). Tinha sido constituída pouco antes como “ordem guerreira” a serviço do Papa e da expansão da fé no Cristo: a Societas Jesu, ou “Ordem de Jesus” (como a chamava seu fundador) se organizou como um exército, comandado por um general vitalício ao qual se devia obediência absoluta; um exército de alcance e abrangência mundial em defesa da Igreja Romana, no período da Contrarreforma.
Na campanha mundial para levantar a Igreja católica, construindo uma imagem positiva e “renovadora” do novo Papa, convergiram, no entanto, desde os mais reacionários representantes do clero até os antigos membros da Teologia da Libertação. Os brasileiros Leonardo Boff e Frei Betto não economizaram argumentos para criar expectativas no novo Papa, inclusive o fato dele ser membro da congregação jesuíta e sua relação com determinados movimentos “progressistas” dentro da Igreja. Boff celebrou a eleição de Bergoglio porque “um jesuíta tem uma cabeça bem formada” para “renovar” a cúpula católica.
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Por enquanto, não houve reformas nem “renovação”, além de gestos simbólicos muito repercutidos pela imprensa. No entanto, a troca da direção do IOR e o anúncio de uma reforma na Cúria já suscitaram uma crise que vai além das fronteiras da Igreja. Um procurador de Reggio Calabria (Nicola Gratteri), membro da comissão estatal italiana contra o “crime organizado”, advertiu que mexer na estrutura financeira da Igreja é mexer com a máfia, e que esta pode apelar aos seus métodos mais usais contra o próprio Papa, caso seus interesses sejam tocados. Uma jornalista do mui conservador Corriere della Sera, especializada em questões religiosas, publicou um livro anunciando o aborto iminente da “revolução do Papa Francisco” devido à pressão interna à Igreja exercida pelos inúmeros e poderosos grupos conservadores (Legionários de Cristo, Focolari, Opus Dei, Comunità di Sant’Egidio, Caminho Neocatecumenal, Comunhão e Liberação, etc.), uma pressão insuperável e muito bem entrincheirada no coração do Estado italiano.[7]
O que sim foi vista foi a função de bombeiro do novo Papa. Francisco I foi ao “maior país católico do mundo”, o Brasil, no qual a proporção de católicos caiu de 92% em 1970 para 65% em 2010%; diminuição que beneficiou as seitas mafiosas evangélicas, que governaram o país na última década ao lado do PT. O papa foi, entre outras coisas, para conter o movimento juvenil que invadiu as ruas brasileiras no mês de junho de 2013, desviando-o, chamando o governo petista a “escutar a voz das ruas” – abrindo mais espaço para a igreja católica e reduzindo o dos evangélicos.
Os “teólogos da libertação” se somaram a essa operação político-religiosa. O Vaticano não trabalhou gratuitamente: pôs os imensos gastos papais no Brasil na conta do Estado, os evangélicos pressionaram o governo brasileiro para que os reduzisse. Toda a “abertura de Bergoglio para os progressistas” se reduziu a um encontro em Roma com o padre peruano Gustavo Gutiérrez, um dos formuladores da Teologia da Libertação, em setembro de 2013, onde nem se sabe do que falaram.
Os traços inusitados do pontificado de Bergoglio, os gestos que deram lugar à atual (e passageira) “bergogliomania”, não são a solução, mas o sintoma da crise que percorre a Igreja, a mais profunda em séculos, que demonstra, para além das declarações em favor dos pobres e contra a cobiça e a insensibilidade dos ricos, que essa instituição milenar uniu para sempre seu porvir ao do capital, e que sofrerá o mesmo destino deste. Um destino que se joga, mais do que nunca, não nas naus dos templos religiosos, mas nas fábricas, escritórios, escolas e ruas do mundo todo.
ITALIANO
«BERGOGLIOMANIA» E CRISI
di Osvaldo Coggiola
Dopo la pubblicazione del mio articolo su «Papa Francesco: esperto in genocidi», ho ricevuto molti commenti: molti più del solito, a riprova che il tema è davvero scottante. Il più gradito, però, l’ho ricevuto dal caro amico e compagno Osvaldo Coggiola (autore del libro da me pubblicato su Il trotskismo in America latina) che, benché argentino vissuto per molti anni in Italia, è ormai definitivamente diventato brasiliano. Osvaldo mi ha inviato il lungo articolo che scrisse in portoghese che fu pubblicato da Boitempo Editorial e in italiano dalla rivista La Contraddizione, nel novembre 2013. Essendo egli contento che la parte su Bergoglio venga ora ripresa da Utopia rossa, io l’ho estratta e sono a mia volta contento di poter consentire un approfondimento sul tema del rapporto di complicità che Bergoglio ebbe con il genocidio generazionale svoltosi in Argentina.
(r.m.)
Nel marzo 1976, all’inizio di una delle dittature militari più sanguinose dell’America Latina in Argentina, Jorge Mario Bergoglio non aveva ancora 40 anni ma era già il "Provinciale" (responsabile) della Compagnia di Gesù nel paese. Non esistono fotografie degli anni successivi che mostrino un legame diretto tra lui e la Giunta Militare, a differenza di quelle che rivelano i rapporti stretti tra l’alta gerarchia cattolica (alla quale Bergoglio non apparteneva ancora) e il gruppo di assassini professionisti al potere. Tuttavia, Bergoglio era lontano dall’opporre resistenza alla linea seguita dalla Chiesa di Roma (non solo in Argentina ma in tutta l’America del Sud, flagellata da feroci regimi controrivoluzionari).
La Chiesa cattolica fu complice delle Forze Armate nel loro compito di morte. In Argentina, la Chiesa è sempre stata un baluardo dell’oligarchia dominante, tanto che Perón fu scomunicato durante il suo primo governo (1946–1955), e i carri armati del colpo di Stato del 1955 portavano croci e lo slogan "Cristo vince!". Il cattolicesimo rimane la religione ufficiale in Argentina, e lo Stato paga con fondi pubblici gli stipendi dei clerici. Fino a poco tempo fa, la principale cerimonia in occasione dell’indipendenza nazionale era una Messa nella cattedrale. Nel 1976, sotto il Ministro dell’Istruzione designato dai militari Ricardo Bruera, la Chiesa supervisionò le politiche educative più oscurantiste mai attuate in Argentina (ad esempio, la teoria degli insiemi in matematica fu bandita perché considerata "comunista"). L’arcivescovo Plaza di La Plata distribuiva crocifissi nei campi di sterminio (dove i detenuti erano sottoposti alle peggiori torture prima di essere uccisi), mentre Monsignor Bonamin (cappellano militare) benediceva i "gruppi operativi" incaricati di sequestrare, torturare e assassinare. Alcuni, come il prete e cappellano militare Christian Von Wernich—ora condannato dalla giustizia—traevano profitto vendendo false informazioni a parenti disperati dei desaparecidos.
Trentacinque anni dopo i fatti, il cardinale argentino Primatesta citò una lettera di Emilio Mignone, padre della desaparecida Mónica Candelaria Mignone e una delle figure laiche più eminenti del cattolicesimo argentino. Mignone, che era stato Ministro dell’Istruzione nella provincia di Buenos Aires negli anni ’40 e Vice Ministro nazionale dell’Istruzione negli anni ’60, fondò il CELS. Nella sua lettera a Primatesta, Mignone affermava che il sistema di sequestri, torture e assassinii—aggravato dal rifiuto di restituire i corpi alle famiglie, dalla loro cremazione, dall’essere gettati in mare o nei fiumi, o sepolti anonimamente in fosse comuni—era stato attuato in nome della "salvezza della 'civiltà cristiana'" e della salvaguardia della Chiesa cattolica. Aggiungeva che disperazione e odio consumavano molti cuori.
In un’intervista con un giornalista spagnolo, Videla dichiarò: "Il mio rapporto con la Chiesa cattolica era eccellente, molto cordiale, sincero e aperto," poiché "era prudente, non creava problemi e non seguiva le tendenze di sinistra e del Terzo Mondo di altri episcopati." Pur condannando "alcuni eccessi," "non ruppe mai i legami." Con Primatesta, addirittura "divenne amico." Così, la Chiesa cattolica argentina sapeva, taceva, occultava e benediva (il genocidio).
Il “1969” è particolarmente significativo poiché segnò l’inizio delle ribellioni popolari contro la dittatura militare di Onganía, a partire dall’insurrezione di Córdoba (“Cordobazo”). In quegli anni, il gesuita già in vista, oggi Papa, era legato alla *Guardia de Hierro*, gruppo peronista che, nel contesto di agitazioni sociali, si opponeva alla sinistra peronista (*Montoneros*, *Juventud Peronista* e altri) favorevole alla lotta armata. Si opponeva anche a movimenti cristiani (*Cristianismo y Revolución* o il *Movimiento de Sacerdotes para el Tercer Mundo*), il cui principale esponente, Padre Mugica, fu assassinato dalla destra peronista della *Triple A*, finanziata da Licio Gelli e dalla Loggia P2. Tali tendenze cristiane spesso confluivano nella sinistra, ispirate dal guerrigliero sacerdote Camilo Torres (con grande influenza della Teologia della Liberazione, nata in Perù e sviluppata in Brasile). In questo ambiente di lotte secolari e religiose contro la sinistra, si plasmarono le convinzioni politiche del futuro Papa.
Bergoglio prese i voti nella Compagnia di Gesù nel 1973, diventando Maestro dei Novizi al Seminario di Villa Barilari. Lo stesso anno fu eletto superiore provinciale dei gesuiti. Nel 1980, terminato il mandato provinciale, iniziò a insegnare in una scuola gesuita. Tra il 1980 e il 1986 fu rettore della Facoltà di Filosofia e Teologia di San Miguel, conferendo lauree honoris causa a membri di alto rango della dittatura militare, incluso l’assassino e mafioso Emilio Eduardo Massera. Dopo aver completato il dottorato in Germania, Bergoglio lavorò come confessore e direttore spirituale a Córdoba.
La *Guardia de Hierro*, con cui Bergoglio aveva legami, intratteneva buoni rapporti con Massera. Secondo Alejandro Tarruella: “Jorge Bergoglio era collegato a membri della GH attraverso il suo coinvolgimento all’Università di Salvador. Nel 1975, Bergoglio nominò due membri della GH, Francisco ‘Cacho’ Piñón e Walter Romero, a posizioni nell’università. Piñón fu colui che, nel 1977, conferì la cattedra honoris causa all’ammiraglio Emilio Eduardo Massera.”
Il defunto Massera ideò un piano per diventare l’erede politico di Perón dopo la dittatura, arrivando persino a pubblicare libri falsamente attribuiti a Perón e a creare un giornale usando il lavoro forzato di detenuti-desaparecidos dell’ESMA (Scuola di Meccanica della Marina), poi giustiziati e fatti sparire. Questo piano fu vanificato dalla caduta dei militari nel 1982–1983. Bergoglio sarebbe stato un pedone politico in questo schema fallito, concepito al culmine della dittatura degli “assassini di Dio.”
Durante il lungo confronto civile con le barbarie militari, Bergoglio—ormai cardinale—fu accusato nel 2005 di coinvolgimento nel sequestro dei sacerdoti gesuiti Orlando Virgilio Yorio e Francisco Jalics, avvenuto il 23 maggio 1976. Entrambi i sacerdoti, che lavoravano sotto la sua guida tra i poveri di Bajo Flores, furono espulsi da lui dall’Ordine Gesuita. Le accuse contro Bergoglio si basavano su articoli giornalistici e sul libro *Iglesia y Dictadura* di Emilio Mignone, riconosciuto esperto sul tema. Un altro libro, *La Isla del Silencio* del giornalista Horacio Verbitsky, menzionava una proprietà della Chiesa usata dai militari come campo di sterminio e indicava i legami di Bergoglio con la dittatura: “[Bergoglio] si recò alla Cancelleria, chiese un processo in favore di Padre [Jalics], ma in privato sconsigliò di concederlo, affermando che era un sovversivo.”
Francisco Jalics negò le accuse in una dichiarazione sul sito web dell’Ordine Gesuita tedesco: “Io e il missionario Orlando Yorio non fummo denunciati da Padre Bergoglio.” Questo, tuttavia, non smentisce le affermazioni di Mignone e Verbitsky. Sergio Rubin, biografo autorizzato di Bergoglio, affermò che, dopo la scomparsa dei due sacerdoti (che Rubin definì eufemisticamente "imprigionamento"), Bergoglio lavorò dietro le quinte per la loro liberazione e intercedette privatamente con il dittatore Jorge Rafael Videla. Non chiunque poteva “intercedere privatamente” con un tale psicopatico, soprattutto per i desaparecidos. Rubin sostenne anche che Bergoglio diede rifugio a persone perseguitate dalla dittatura in proprietà ecclesiastiche, cedendo persino i propri documenti d’identità a un uomo simile a lui per aiutarlo a fuggire dall’Argentina.
Funzionari militari coinvolti salvarono anche individui a loro vicini, inclusi parenti. Adolfo Pérez Esquivel, vincitore del Premio Nobel per la Pace nel 1980, confutò (o tentò di confutare) le accuse contro l’attuale Papa Francesco, affermando: “Alcuni vescovi furono complici del regime [alcuni?], ma Bergoglio non era tra loro,” dichiarazione che non poteva conoscere con certezza a meno che lo stesso Esquivel non avesse legami discutibili. Estela de la Cuadra, sorella di Orlando Yorio, molto più vicina ai fatti, disse in un’intervista: “La Chiesa Cattolica ha scelto una persona che fu complice di un regime genocida.”
L’operazione per “ripulire il nome” dell’attuale Papa Francesco è sorprendente e include diverse figure ufficiali, come Pérez Esquivel. Paulo Suess riassunse in un articolo pubblicato sul sito cristiano *Instituto Humanitas Unisinos*:
“Bergoglio e la sua Chiesa argentina non mostrarono atteggiamenti profetici durante la dittatura militare (1976–1983) come accadde in altre Chiese dell’America Latina. All’epoca, Bergoglio non era ancora vescovo, ma superiore provinciale dei Gesuiti in Argentina (1973–1979). Come provinciale, *espulse* due giovani gesuiti—Orlando Virgilio Yorio e Francisco Jalics—dalla Compagnia di Gesù e ostacolò la loro accettazione nella diocesi di Morón, guidata dal salesiano Miguel Raspanti. Tra l’espulsione e il processo di accettazione, il 23 maggio 1976, Yorio e Jalics furono sequestrati dalle forze militari, torturati e, sei mesi dopo, esiliati. La sincronizzazione tra l’espulsione e il rapimento dei due ex-gesuiti indica una certa comprensione tra autorità ecclesiastiche e militari. Questo non è stato definitivamente provato” (enfasi aggiunta).
Certamente, molte altre cose non poterono essere *provate* durante questa repressione illegale, segreta e non documentata. Ma le prove esistono per chi non vuole restare cieco.
Cinque testimonianze, offerte spontaneamente, confermarono il ruolo di Jorge Mario Bergoglio nella repressione del governo militare, anche contro le fazioni progressiste della Chiesa Cattolica, che ora guida: un teologo che per decenni insegnò catechismo nelle scuole della diocesi di Morón; l’ex superiore di una fraternità sacerdotale decimata dalle sparizioni forzate; un membro della stessa fraternità che segnalò i casi al Vaticano; un sacerdote e un laico che furono sequestrati e torturati. Due mesi dopo il colpo di stato militare del 1976, il vescovo di Morón, Miguel Raspanti, tentò di proteggere i sacerdoti Orlando Yorio e Francisco Jalics, temendo che potessero essere sequestrati. Tuttavia, Bergoglio si oppose, secondo Marina Rubino, ex insegnante di catechismo nelle scuole della diocesi di Morón che, all'epoca, studiava teologia presso il Colegio Máximo di San Miguel, dove Bergoglio risiedeva. Era stata allieva di Yorio e Jalics e conosceva i rischi che correvano: furono sequestrati il 23 maggio 1976 e portati alla Scuola di Meccanica della Marina (ESMA), dove furono interrogati da uno specialista in materia ecclesiastica. Durante uno degli interrogatori, vennero chieste informazioni sui seminaristi Carlos Antonio Di Pietro e Raúl Eduardo Rodríguez. Entrambi erano compagni di corso di Rubino negli studi teologici a San Miguel e svolgevano lavoro sociale in un quartiere popolare, da cui furono sequestrati dieci giorni dopo i due gesuiti, il 4 giugno 1976, e portati nella stessa "casa operativa" di Yorio e Jalics.
Alejandro Dausa, che fu sequestrato a Córdoba il 3 agosto 1976, mentre era seminarista dell'Ordine dei Missionari di Nostra Signora di La Salette, subì sei mesi di torture dalla polizia nel Dipartimento di Intelligence D2. Successivamente riuscì a trasferirsi negli Stati Uniti, dove incontrò James Weeks, sacerdote americano responsabile del seminario. Una volta arrivato negli USA, Dausa seppe che Jalics si trovava a Cleveland, ospite di una sorella. In due ritiri spirituali tenutisi nel 1977 ad Altamont, New York, e Ipswich, Massachusetts, parlarono delle loro esperienze. Dausa ricordò: “Naturalmente, discutemmo dei rispettivi sequestri, dettagli, caratteristiche, retroscena, segni premonitori, persone coinvolte, ecc. In quelle conversazioni, lui [Jalics] indicò che Bergoglio li aveva consegnati e denunciati.”
Nel decennio successivo, Alejandro Dausa lavorò come sacerdote in Bolivia e partecipò ai ritiri annuali di La Salette in Argentina. In uno di questi ritiri, Orlando Yorio, che all'epoca lavorava a Quilmes, fu invitato dagli organizzatori: “Il ritiro si tenne a Carlos Paz, Córdoba, e anche in questa occasione discutemmo dell’esperienza del sequestro. Orlando indicò lo stesso di Jalics riguardo alla responsabilità di Bergoglio.” Orlando Yorio morì nell’agosto 2000 a Montevideo, in Uruguay.
Roberto Scordato, fondatore della fraternità laica “Piccoli Fratelli del Vangelo Charles de Foucauld,” raccontò come, tra la fine di ottobre e l'inizio di novembre 1976, incontrò il cardinale Eduardo Pironio, all’epoca Prefetto della Congregazione per i Religiosi in Vaticano, a Roma. Scordato denunciò un sacerdote gesuita di San Miguel che partecipava alle sessioni di tortura presso la caserma di Campo de Mayo, svolgendo il ruolo di “addolcitore spirituale” per i detenuti. Scordato gli chiese di riferire l’informazione al Superiore Generale, Pedro Arrupe. Una denuncia simile venne da Lorenzo Riquelme, un medico arrestato durante l'irruzione della polizia nel quartiere popolare di La Manuelita. Tornato in libertà, Riquelme informò Patrick Rice, allora Superiore dei Piccoli Fratelli del Vangelo, che un gesuita del Colegio di San Miguel, cappellano dell’Esercito, lo aveva denunciato. Questo sacerdote era presumibilmente presente durante le torture inflitte a Riquelme a Campo de Mayo. Rice, anch’egli sequestrato e torturato in quell’anno, dichiarò che ciò non sarebbe stato possibile senza l’approvazione del superiore provinciale (Bergoglio). Le prove, dunque, abbondano.
Durante il periodo della democrazia, Bergoglio proseguì, inizialmente non disturbato dal suo passato compromettente (come accaduto a molti altri), la sua carriera politico-religiosa. Si distinse come portavoce delle principali campagne reazionarie guidate dalla Chiesa Cattolica argentina, contro la legge sul divorzio e contro l'aborto legale, tra le altre. Fu il principale oppositore alla legislazione argentina che permise il matrimonio tra persone dello stesso sesso, avendo dichiarato:
“Se la legge che prevede per le persone dello stesso sesso la possibilità di unirsi civilmente e adottare anche bambini verrà approvata, potrebbe avere effetti seriamente dannosi sulla famiglia. Il popolo argentino dovrà affrontare nelle prossime settimane una situazione che, se avrà successo, potrà danneggiare seriamente la famiglia. È in gioco l’identità e la sopravvivenza della famiglia: padre, madre e figli. Non dobbiamo essere ingenui: questa non è semplicemente una lotta politica, ma è un attacco distruttivo contro il piano di Dio [sic].”
Nel maggio 1992, Papa Giovanni Paolo II lo nominò vescovo ausiliare di Buenos Aires. La sua ordinazione episcopale avvenne nel giugno del
1992. Il 3 giugno 1997 venne nominato coadiutore arcivescovo di Buenos Aires. Divenne arcivescovo metropolitano di Buenos Aires nel febbraio del 1998. Nel novembre del 1998 venne nominato ordinario per i fedeli del rito orientale da Giovanni Paolo II.
Una carriera fulminea, assicurata dal favore di Karol Wojtyła, che aveva ridotto il teologo progressista Leonardo Boff e i suoi sostenitori al silentium obsequiosum, e proclamato chiaramente che “la Chiesa cattolica non è una democrazia.” Come è noto, Giovanni Paolo II combatté fermamente la Teologia della Liberazione e le altre correnti progressiste all’interno della Chiesa, mentre canonizzava il fondatore dell’Opus Dei reazionaria e lusingava il criminale pedofilo Marcial Maciel, fondatore dei “Legionari di Cristo.” Rimase in silenzio il più a lungo possibile riguardo alle dittature militari latinoamericane con il sostegno degli Stati Uniti, coprendo le frodi finanziarie della Banca Vaticana in associazione con la Mafia italiana e la CIA, tra cui il traffico di armi e il finanziamento delle guerriglie di destra, come rivelato nello scandalo Iran-Contra. Protese il presidente della stessa banca, l'arcivescovo Marcinkus, condannato per frode e crimini finanziari, e anche sospettato di essere il mandante di tre omicidi. Coprì i casi di pedofilia all'interno della Chiesa, mentre pretendeva che i fedeli non usassero contraccettivi come la pillola e i preservativi, nemmeno durante l’epidemia di HIV, e combatteva attivamente contro il riconoscimento delle unioni dello stesso sesso.
Quando Bergoglio, negli anni 2000, divenne capo dell’episcopato argentino, i rapporti sociali del paese stavano attraversando un processo di dissoluzione. Bergoglio vide positivamente l'operazione di recupero politico da parte dello stato guidata dai Kirchner. Quando l'Argentina capitalista stava crollando, Bergoglio convocò un tavolo di “dialogo sociale”, dove partecipò anche il centro sindacale CTA, per sostenere il governo di Duhalde, che aveva preceduto Kirchner e stava attuando una massiccia confisca economico-sociale. Il vicepresidente della provincia di Buenos Aires, Gabriel Mariotto, e il capo del Movimento Evita, Emilio Pérsico, etichettarono Bergoglio come un “peronista.”
Il 19 aprile 2005, quando Ratzinger fu eletto successore di Giovanni Paolo II, l’ascesa internazionale di Bergoglio era già ben consolidata (soprattutto grazie alla lotta contro le tendenze “progressiste” nella Chiesa) al punto che riuscì a ottenere il secondo posto nelle votazioni del conclave vaticano. Probabilmente non vinse in quel momento a causa delle accuse che cominciavano a pesare su di lui in Argentina: nel libro *L’uomo che non voleva diventare Papa*, il giornalista tedesco Andreas Englisch, corrispondente vaticano, affermò che la paura di un'eventuale complicità con la dittatura rendeva l'argentino una scelta insicura per i cardinali. Il prescelto, Joseph Ratzinger, era stato il prefetto della Congregazione per la Dottrina della Fede (ribattezzata nel 1908 Santa Inquisizione), posto in carica da Wojtyła per plasmare la dottrina della Chiesa.
La velocità con cui Jorge Bergoglio fu consacrato da un conclave simile a un’omertà cercava di rompere l’impasse nella successione papale causata dal collasso della leadership vaticana. Prima del conclave, tutti gli analisti scrivevano che non aveva possibilità a causa del suo curriculum, almeno omissivo in relazione al genocidio argentino. Apparentemente, sotto nuove condizioni (la crisi globale e quella della Chiesa), fu proprio questo curriculum che gli conferì i credenziali per la vittoria. “La questione centrale è la governabilità,” spiegò John Allen, biografo di Joseph Ratzinger, per chiarire l’urgenza dei cardinali “dopo otto anni di non-governance” (sic), riferendosi, senza nominarlo, alla massa senza precedenti di crimini, frodi e scandali di ogni tipo che portarono alle dimissioni del papa tedesco. I “rapporti segreti” che causarono la partenza di Ratzinger non furono mai nemmeno rivelati ai 114 cardinali che avrebbero dovuto eleggere il suo successore. Il rifiuto del segretario di stato vaticano, Tarcisio Bertone, di rilasciare i rapporti segreti convinse loro che erano alla fine della linea. Il proseguimento della “partito romano” (un quarto del collegio episcopale) minacciava l’esplosione del bordello vaticano, dove – secondo questi rapporti – operava un “lobby gay,” tra gli altri. Il candidato brasiliano, Odílio Scherer, fu scartato quando cercò di difendere l’IOR, le cui operazioni e conti venivano criticati dalla commissione europea incaricata di salvare il sistema bancario. L'IOR era fallito, svuotato da operazioni con la mafia, riciclaggio di denaro e trattative portate avanti dalla leadership romana.
La decomposizione del “partito romano” della Chiesa affossò un altro papabile, il vescovo di Milano, Angelo Scola, promosso dai vescovi americani e tedeschi. Bergoglio sembrò trarre vantaggio dalla furia e dal risentimento dei cardinali verso le rivalità e le lotte interne della Curia, che indebolirono il tradizionale blocco italiano, quasi un quarto dei cardinali, riducendo le possibilità dell’arcivescovo di Milano, Angelo Scola, uno dei due favoriti, insieme a Odilio Scherer.
Fu, dunque, una scelta di crisi. Era ben chiara la consapevolezza che stavano operando sul bordo dell’abisso: un teologo affermò che di fronte alla crisi della curia vaticana, “i templi religiosi monumentali del continente potrebbero diventare musei.” Il “populismo” di Bergoglio, attuato dai primi momenti del suo papato, prefigura una delle varianti che potrebbero riempire il “vuoto di potere” in Europa: il bonapartismo, che in Europa è sempre stato il piedistallo che ha anticipato il fascismo. Dopo il fallimento con un rappresentante tedesco, concordato con la politica della Bundesbank, i cardinali cercarono il nuovo papa nel *finisterrae*, una metafora del fallimento dell’UE, l’Europa del capitale. Hans Küng, intellettuale leader del progressismo cattolico, dopo aver affermato che non si aspettava un Gorbaciov in Vaticano, accese subito una candela per Bergoglio. Non fu l’unico. Cristina Kirchner dimenticò i suoi recenti conflitti con il nemico dell’aborto, dei divorziati e dei gay per correre a salutare l’uomo della reazione argentina sul trono di Pietro. I “teologi della liberazione,” a loro volta, non aspettarono nemmeno la visita di Francesco in Brasile. Il quotidiano argentino *La Nación*, dall’altro lato dello spettro politico, chiarì che, nella categoria della “pedofilia,” Francesco “non ha mai preso posizione.”
Il cardinale Bergoglio fu eletto il 13 marzo 2013, al secondo giorno del conclave, scegliendo il nome Francesco. La sua elezione sembra sia stata il risultato di un accordo tra gli uomini della Curia, in particolare il decano del Collegio dei Cardinali, Angelo Sodano (che non partecipò al conclave), i cardinali Giovanni Battista Re e Tarcisio Bertone, e i cardinali americani. Fu il primo gesuita ad essere eletto papa, il primo papa del continente americano, dell’emisfero australe, e il primo non europeo a essere investito come Vescovo di Roma da più di 1.200 anni, da Gregorio III, che era nato in Siria e governò la Chiesa cattolica tra il 731 e il 741.
L’ordine dei gesuiti attese quasi cinque secoli: fu riconosciuto dalla Santa Sede nel 1540, durante lo sviluppo delle divisioni protestanti e calviniste (Ignazio di Loyola, suo fondatore, conviveva all’Università di Parigi con lo stesso Jean Calvin). Era stato costituito poco prima come un “ordine guerriero” al servizio del papa e dell’espansione della fede in Cristo: la *Societas Jesu*, o “Ordine di Gesù” (come lo chiamò il suo fondatore) si organizzò come un esercito, comandato da un generale a vita al quale si doveva obbedienza assoluta; un esercito mondiale a difesa della Chiesa romana durante la Controriforma.
Nel vasto gioco mediatico per risollevare la Chiesa cattolica, costruendo un’immagine positiva e “rinnovatrice” del nuovo papa, si congiunsero rappresentanti sia del clero più reazionario che degli ex membri della Teologia della Liberazione. I brasiliani Leonardo Boff e Frei Betto non risparmiarono argomentazioni per creare aspettative sul nuovo papa, incluso il fatto che fosse un membro della congregazione dei gesuiti e il suo rapporto con certi movimenti “progressisti” all’interno della Chiesa. Boff celebrò l’elezione di Bergoglio perché “un gesuita ha una mente ben formata” per “rinnovare” la leadership cattolica.
Per ora non ci sono state riforme o “rinnovamenti,” al di là di gesti simbolici ampiamente coperti dai media. Tuttavia, la modifica della leadership dell’IOR e l’annuncio di una riforma della Curia hanno già scatenato una crisi che va oltre i confini della Chiesa. Un procuratore di Reggio Calabria (Nicola Gratteri), membro della commissione statale italiana contro la criminalità organizzata, avvertì che manomettere la struttura finanziaria della Chiesa significa manomettere la mafia, e che potrebbe ricorrere ai suoi metodi più abituali contro lo stesso papa se i suoi interessi venissero toccati. Un giornalista del *Corriere della Sera*, specializzato in questioni religiose, pubblicò un libro annunciando il fallimento imminente della “rivoluzione di Papa Francesco” a causa della pressione interna che la Chiesa sta affrontando da numerosi e potenti gruppi conservatori (Legionari di Cristo, Focolari, Opus Dei, Comunità di Sant'Egidio, Cammino Neocatecumenale, Comunione e Liberazione, ecc.), una pressione insuperabile e radicata nel cuore dello stato italiano.
Ciò che si è visto è stato il ruolo di Papa Francesco come pompiere. Francesco I è andato nel “più grande paese cattolico del mondo,” il Brasile, dove la proporzione dei cattolici è passata dal 92% nel 1970 al 65% nel 2010, una diminuzione che ha favorito le sette evangeliche di tipo mafioso, che hanno governato il paese nell'ultimo decennio insieme al PT. Il papa era, tra le altre cose, lì per contenere il movimento giovanile che invase le strade brasiliane nel giugno del 2013, redirigendo lo stesso, esortando il governo del PT a “ascoltare la voce delle strade” – aprendo più spazio per la Chiesa cattolica e riducendo quello delle chiese evangeliche.
I “teologi della liberazione” si unirono a questa operazione politico-religiosa. Il Vaticano non lavorò gratis: mise a carico dello stato le ingenti spese papali in Brasile, e gli evangelici esercitarono pressioni sul governo brasiliano per ridurle. Tutta l'“apertura ai progressisti” di Bergoglio si ridusse ad un incontro a Roma con il sacerdote peruviano Gustavo Gutiérrez, uno dei formulatori della Teologia della Liberazione, nel settembre del 2013, dove non si sa cosa si siano detti.
I tratti inconsueti del pontificato di Bergoglio, i gesti che hanno dato luogo all’attuale (e temporanea) “bergogliomania,” non sono la soluzione ma il *sintomo* della crisi che la Chiesa sta vivendo, la più profonda da secoli, che mostra, oltre le dichiarazioni a favore dei poveri e contro l'avidità e l'insensibilità dei ricchi, che questa istituzione millenaria ha legato per sempre il suo destino a quello del capitale, e subirà la stessa sorte. Una sorte che, più che mai, si sta decidendo non sulle navi dei templi religiosi, ma nelle fabbriche, negli uffici, nelle scuole e nelle strade del mondo.
ENGLISH
«BERGOGLIOMANIA» AND CRISIS
by Osvaldo Coggiola
After the publication of my article on "Pope Francis: Expert in Genocides," I received numerous comments—far more than usual, proving how controversial this subject is. However, the most appreciated came from my dear friend and comrade Osvaldo Coggiola (author of the book I published on Trotskyism in Latin America), who, although an Argentine who lived for many years in Italy, has definitively become Brazilian. Osvaldo sent me the long article he wrote in Portuguese, published by *Boitempo Editorial* and in Italian by the magazine La Contraddizione in November 2013. Since he is happy for the section on Bergoglio to be revisited in Utopia Rossa, I have extracted it, and I am equally pleased to enable a deeper exploration of the relationship of complicity Bergoglio had with the generational genocide that took place in Argentina.
(r.m.)
In March 1976, at the onset of one of Latin America’s bloodiest military dictatorships in Argentina, Jorge Mario Bergoglio was not yet 40 years old but was already the "Provincial" (head) of the Jesuit Order in the country. No photographs from the following years directly show any association between him and the Military Junta, unlike those that reveal the close ties between the high Catholic hierarchy (to which Bergoglio did not yet belong) and the group of professional assassins in power. However, Bergoglio was far from opposing the line taken by the Church of Rome (not just in Argentina but throughout South America, plagued by fierce counterrevolutionary regimes).
The Catholic Church served as an accomplice to the Armed Forces in their deadly task. In Argentina, the Church has always been a bastion of the dominant oligarchy, so much so that Perón was excommunicated during his first government (1946–1955), and the tanks of the 1955 coup bore crosses and the slogan "Christ Wins!" Catholicism remains the official religion in Argentina, and the state pays clerical salaries with public funds. Until recently, the main ceremony commemorating national independence was a Mass in the cathedral. In 1976, under the military-appointed Minister of Education Ricardo Bruera, the Church oversaw the most obscurantist educational policies ever implemented in Argentina (e.g., the set theory in mathematics was banned as it was deemed "communist"). Archbishop Plaza of La Plata distributed crucifixes in extermination camps (where detainees were subjected to the worst tortures before being killed), while Monsignor Bonamin (army chaplain) blessed the "task forces" tasked with abduction, torture, and murder. Some, like the priest and military chaplain Christian Von Wernich—now convicted by justice—profited from selling false information to desperate relatives of the disappeared.
Thirty-five years after the events, Argentine Cardinal Primatesta referenced a letter from Emilio Mignone, the father of detained-disappeared Mónica Candelaria Mignone and one of the most prominent lay figures of Argentine Catholicism. Mignone, who had been Minister of Education in Buenos Aires Province in the 1940s and National Deputy Minister of Education in the 1960s, founded CELS. In his letter to Primatesta, Mignone stated that the system of abduction, theft, torture, and murder—aggravated by the refusal to return the bodies to their families, their disposal through cremation, being thrown into the sea or rivers, or buried anonymously in mass graves—was carried out in the name of "saving 'Christian civilization'" and safeguarding the Catholic Church. He added that desperation and hatred were consuming many hearts.
In an interview with a Spanish journalist, Videla said, "My relationship with the Catholic Church was excellent, very cordial, sincere, and open," because "it was prudent, didn’t create problems, and didn’t follow the leftist and Third World tendencies of other episcopates." While condemning "some excesses," it "did not break ties." With Primatesta, he even "became friends." Thus, the Argentine Catholic Church knew, remained silent, concealed, and even blessed (the genocide).
Bergoglio’s low profile during this period warrants investigation. Born to Italian immigrant parents in the Flores neighborhood of Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio earned a degree and master’s in chemistry at the University of Buenos Aires. During his youth, he had a girlfriend, Amalia. He entered the Jesuit novitiate in March 1958, completing it in Santiago, Chile. He graduated in Philosophy in 1960 at the Catholic University of Buenos Aires. Between 1964 and 1966, he taught Literature and Psychology at the Immaculate Conception College in Santa Fe Province and at the University of Salvador in Buenos Aires (a historic and private center of political reaction). He graduated in Theology in 1969 and was ordained a priest in December of that year.
“1969” is particularly significant as it marked the beginning of popular uprisings against Onganía's military dictatorship, starting with the Córdoba insurrection (“Cordobazo”). During those years, the already prominent Jesuit who is now Pope was associated with *Guardia de Hierro*, a Peronist group that, amid the prevailing social upheaval, opposed the Peronist left (*Montoneros*, *Juventud Peronista*, and others) advocating armed struggle. It also opposed Christian movements (*Cristianismo y Revolución* or the *Movimiento de Sacerdotes para el Tercer Mundo*), whose main representative, Father Mugica, was assassinated by the right-wing Peronist *Triple A*, financed by Licio Gelli and the P2 Lodge. These Christian tendencies often converged with the left and echoed the example of guerrilla priest Camilo Torres (with significant influence from Liberation Theology, born in Peru and developed in Brazil). The future Pope's political convictions were shaped in this environment of secular and religious struggle against the left.
Bergoglio took his vows in the Society of Jesus in 1973, becoming Novice Master at the Villa Barilari Seminary. That same year, he was elected provincial superior of the Jesuits. In 1980, after his term as provincial, he began teaching at a Jesuit school. Between 1980 and 1986, he served as rector of the Faculty of Philosophy and Theology of San Miguel, granting honorary doctorates (*honoris causa*) to top-ranking members of the military dictatorship, including the assassin and mafioso Emilio Eduardo Massera. After completing his doctorate in Germany, Bergoglio worked as a confessor and spiritual director in Córdoba.
*Guardia de Hierro*, with which Bergoglio maintained ties, cultivated good relations with Massera. According to Alejandro Tarruella, “Jorge Bergoglio was connected to members of GH through his involvement at the University of Salvador. In 1975, Bergoglio appointed two GH members, Francisco 'Cacho' Piñón and Walter Romero, to positions at the university. Piñón was the one who, in 1977, presented the honorary professorship to Admiral Emilio Eduardo Massera.”
The late Massera devised a plan to become Perón’s political heir post-dictatorship, even publishing books falsely attributed to Perón and creating a newspaper using the forced labor of detained-disappeared individuals from the ESMA (Navy Mechanics School), later executed, with their bodies also made to disappear. This plan was derailed by the military’s downfall in 1982–1983. Bergoglio would have been a political pawn in this failed scheme, conceived at the height of the “assassins of God” dictatorship.
During the long civilian reckoning with military barbarities, Bergoglio—by then a cardinal—was accused in 2005 of involvement in the kidnapping of Jesuit priests Orlando Virgilio Yorio and Francisco Jalics on May 23, 1976. Both priests, working under Bergoglio’s leadership among the poor of Bajo Flores, were expelled by him from the Jesuit Order. The accusations against Bergoglio were based on journalistic articles and the book *Iglesia y Dictadura* by Emilio Mignone, a recognized authority on the subject. Another book, *La Isla del Silencio* by journalist Horacio Verbitsky, referenced a Church-owned property used by the military as an extermination camp and pointed to Bergoglio’s connections with the dictatorship: “[Bergoglio] went to the Chancellery, requested a process in favor of Father [Jalics], but privately advised against granting it, claiming he was a subversive.”
Francisco Jalics denied the accusations in a statement on the German Jesuit Order’s website: “Missionary Orlando Yorio and I were not denounced by Father Bergoglio.” This, however, does not refute Mignone and Verbitsky's claims. Sergio Rubin, Bergoglio’s authorized biographer, stated that after the disappearance of the two priests (which Rubin euphemistically called "imprisonment"), Bergoglio worked behind the scenes for their release and privately interceded with dictator Jorge Rafael Videla. Not just anyone could “intercede privately” with such a psychopath, especially on behalf of the disappeared. Rubin also claimed that Bergoglio sheltered people persecuted by the dictatorship on Church properties, even giving his own identity documents to a man resembling him to help him flee Argentina.
Highly implicated military officials also saved individuals close to them, including relatives. Adolfo Pérez Esquivel, winner of the 1980 Nobel Peace Prize, refuted (or tried to refute) accusations against the current Pope Francis, claiming, “Some bishops were complicit with the regime [some?], but Bergoglio was not among them,” a statement he could not definitively know unless Esquivel himself harbored dubious connections. Orlando Yorio’s sister, Estela de la Cuadra, much closer to the events in question, said in an interview, “The Catholic Church chose a person who was complicit in a genocidal regime.”
The operation to "clear the name" of the now-modest Pope Francis is striking and includes several official figures, such as Pérez Esquivel. Paulo Suess summarized in an article published on the Christian *Instituto Humanitas Unisinos* website:
“Bergoglio and his Argentine Church did not exhibit prophetic attitudes during the military dictatorship (1976–1983) as occurred in other Latin American Churches. At that time, Bergoglio was not yet a bishop but the provincial superior of the Jesuits in Argentina (1973–1979). As provincial, he *expelled* two young Jesuits—Orlando Virgilio Yorio and Francisco Jalics—from the Society of Jesus and hindered their acceptance in the Morón diocese, led by Salesian Miguel Raspanti. Between the expulsion and the acceptance process, on May 23, 1976, Yorio and Jalics were kidnapped by military forces, tortured, and, half a year later, exiled. The synchronization between the expulsion and the abduction of the two ex-Jesuits indicates some understanding between ecclesiastical and military authorities. This has not been definitively proven” (emphasis added).
Certainly, many other things could not be *proven* during this illegal, secret, and undocumented repression. But the evidence exists for those unwilling to remain blind.
Five testimonies, offered spontaneously, confirmed the role of Jorge Mario Bergoglio in the repression of the military government, including against the progressive factions of the Catholic Church, which he now leads: a theologian who taught catechism in schools of the Morón diocese for decades; the former superior of a priestly fraternity that was decimated by forced disappearances; a member of the same fraternity who reported the cases to the Vatican; a priest and a layperson who were kidnapped and tortured. Two months after the 1976 military coup, the bishop of Morón, Miguel Raspanti, attempted to protect the priests Orlando Yorio and Francisco Jalics, fearing they might be kidnapped. However, Bergoglio opposed this, according to Marina Rubino, a former catechism teacher in the schools of the Morón diocese who, at the time, was studying theology at the Colegio Máximo in San Miguel, where Bergoglio lived. She had been a student of Yorio and Jalics and knew the risks they faced: they were kidnapped on May 23, 1976, and taken to the Navy Mechanics School (ESMA), where a specialist in ecclesiastical matters interrogated them. During one interrogation, they were asked about seminarians Carlos Antonio Di Pietro and Raúl Eduardo Rodríguez. Both were Rubino’s classmates in the theology course at San Miguel and carried out social work in a popular neighborhood, from which they were kidnapped ten days after the two Jesuits, on June 4, 1976, and taken to the same "operational house" as Yorio and Jalics.
Alejandro Dausa, who was kidnapped in Córdoba on August 3, 1976, while he was a seminarian of the Order of Missionaries of Our Lady of La Salette, endured six months of torture by the police in the D2 Intelligence Department. He later managed to travel to the United States, where he met James Weeks, the American priest responsible for the seminary. Upon arrival in the U.S., Dausa learned that Jalics was in Cleveland, staying with a sister. In two spiritual retreats held in 1977 in Altamont, New York, and Ipswich, Massachusetts, they talked about their experiences. Dausa recalled, “Naturally, we discussed our respective kidnappings, details, characteristics, background, prior signs, involved persons, etc. In those conversations, he [Jalics] indicated that Bergoglio had turned them in and denounced them.”
In the following decade, Alejandro Dausa worked as a priest in Bolivia and participated in the annual La Salette retreats in Argentina. At one such retreat, Orlando Yorio, who was then working in Quilmes, was invited by the organizers: “The retreat was held in Carlos Paz, Córdoba, and in this instance too, we discussed the experience of the kidnapping. Orlando indicated the same as Jalics regarding Bergoglio’s responsibility.” Orlando Yorio passed away in August 2000 in Montevideo, Uruguay.
Roberto Scordato, the founder of the lay fraternity “Little Brothers of the Gospel Charles de Foucauld,” narrated how, between late October and early November 1976, he met Cardinal Eduardo Pironio, then Prefect of the Congregation for Religious in the Vatican, in Rome. Scordato reported a Jesuit priest from San Miguel who participated in torture sessions at the Campo de Mayo barracks, playing the role of “spiritual softener” for detainees. Scordato asked him to convey the information to the Superior General, Pedro Arrupe. A similar account came from Lorenzo Riquelme, a doctor detained during the police raid in the popular neighborhood of La Manuelita. Upon regaining his freedom, Riquelme informed Patrick Rice, then Superior of the Little Brothers of the Gospel, that a Jesuit from San Miguel College, who was also a chaplain of the Army, had denounced him. This priest was allegedly present during the tortures inflicted upon Riquelme at Campo de Mayo. Rice, who was also kidnapped and tortured that year, stated that this would not have been possible without the approval of the provincial superior (Bergoglio). The evidence, therefore, abounds.
During the period of democracy, Bergoglio continued, initially undisturbed by his compromising past (as happened with many others), his political-religious career. He distinguished himself as a spokesperson for the main reactionary campaigns led by the Argentine Catholic Church, against divorce law and against legal abortion, among others. He was the main opponent to Argentine legislation that allowed same-sex marriage, having said:
“If the bill allowing people of the same sex to marry and also adopt children is passed, it could have seriously harmful effects on the family. The Argentine people will face a situation in the coming weeks that, if successful, could seriously hurt the family. The identity and survival of the family are at stake: father, mother, and children. We must not be naive: this is not simply a political struggle, but it is a destructive assault against God's plan [sic].”
In May 1992, Pope John Paul II appointed him auxiliary bishop of Buenos Aires. His episcopal ordination took place in June 1992. On June 3, 1997, he was appointed coadjutor archbishop of Buenos Aires. He became metropolitan archbishop of Buenos Aires in February 1998. He was then appointed ordinary for the faithful of the Eastern Rite by John Paul II in November 1998.
A meteoric career, ensured by the favor of Karol Wojtyła, who had reduced the progressive theologian Leonardo Boff and his supporters to silentium obsequiosum, and clearly proclaimed that “the Catholic Church is not a democracy.” As is well known, John Paul II firmly fought Liberation Theology and other progressive strands within the Church while canonizing the founder of the reactionary Opus Dei and flattering the criminal pedophile Marcial Maciel, founder of the ultra-orthodox “Legionaries of Christ.” He remained silent as long as possible about the Latin American military dictatorships with U.S. support, covered up financial fraud by the Vatican Bank in association with the Italian Mafia and the CIA, including arms trafficking and funding right-wing guerrillas, as revealed in the Iran-Contra scandal. He protected the president of the same bank, Archbishop Marcinkus, convicted of committing fraud and financial crimes, and also suspected of being the mastermind behind three murders. He covered up the cases of pedophilia within the Church while demanding that the faithful not use contraceptives such as the pill and condoms, even during the HIV epidemic, and actively fought against the recognition of same-sex relationships.
When Bergoglio, in the 2000s, became the head of the Argentine episcopate, the country’s social relations were undergoing a process of dissolution. Bergoglio viewed positively the political rescue operation by the state led by the Kirchners. When capitalist Argentina was crumbling, Bergoglio called a “social dialogue” table, where the CTA trade union center participated, to sustain the government of Duhalde, who preceded Kirchner and was carrying out a massive economic-social confiscation. The vice-governor of Buenos Aires, Gabriel Mariotto, and the head of the Movimiento Evita, Emilio Pérsico, labeled Bergoglio as a “Peronist.”
On April 19, 2005, when Ratzinger was elected successor to John Paul II, Bergoglio’s international rise was already well consolidated (especially due to the struggle against “progressive” trends in the Church) to the point that he secured second place in the Vatican conclave vote. He likely did not win at that time due to the allegations that were beginning to weigh on him in Argentina: in *The Man Who Didn't Want to Be Pope*, German journalist Andreas Englisch, Vatican correspondent, stated that the fear of potential complicity with the dictatorship made the Argentine an insecure choice for the cardinals. The chosen one, Joseph Ratzinger, had been the Prefect of the Congregation for the Doctrine of the Faith (rebranded in 1908 as the Holy Inquisition), placed in the position by Wojtyła to shape Church doctrine.
The speed with which Jorge Bergoglio was consecrated by a conclave resembling an omertà sought to break the deadlock in the papal succession caused by the collapse of the Vatican leadership. Before the conclave, all analysts wrote that he had no chances due to his curriculum, at least omissive in relation to the Argentine genocide. Apparently, under new conditions (the global crisis and the crisis of the Church), it was precisely this curriculum that gave him the credentials for victory. “The central issue is governability,” said John Allen, biographer of Joseph Ratzinger, to explain the urgency of the cardinals “after eight years of non-governance” (sic), referring, without naming it, to the unprecedented mass of crimes, frauds, and scandals of all kinds that led to the resignation of the German pope. The “secret reports” that triggered Ratzinger's departure were never even revealed to the 114 cardinals who were supposed to elect his successor. The refusal of the Vatican Secretary of State, Tarcisio Bertone, to release the secret reports convinced them that they were at the end of the line. The continuation of the “Roman party” (a quarter of the episcopal college) threatened with the explosion of the Vatican bordello, where – according to these reports – a “gay lobby” operated, among others. The Brazilian candidate, Odílio Scherer, was discarded when he attempted to defend the IOR, whose operations and accounts were objected to by the European commission dedicated to rescuing the banking system. The IOR was bankrupt, emptied by operations with the mafia, money laundering, and deals made by the Roman leadership.
The decomposition of the Church’s “Roman party” sank another papabile, the Bishop of Milan, Angelo Scola, promoted by American and German bishops. Bergoglio seemed to have benefited from the fury and resentment felt by the cardinals over the rivalries and internal struggles of the Curia, which weakened the traditionally powerful Italian block, almost a quarter of the cardinals, reducing the chances of the Archbishop of Milan, Angelo Scola, one of the two favorites, along with Odilio Scherer.
It was, therefore, a crisis choice. There was a clear awareness that they were operating on the edge of the abyss: one theologian stated that in the face of the crisis of the Vatican curia, “the monumental religious temples of the continent could become museums.” Bergoglio’s “populism,” implemented from the first moments of his papacy, anticipates one of the variants that could fill the “power vacuum” in Europe: Bonapartism, which in Europe has always been the pedestal that anticipated fascism. After failing with a German representative, agreed upon with the Bundesbank’s politics, the cardinals sought the new pope in *finisterrae*, a metaphor for the bankruptcy of the EU, the Europe of capital. Hans Küng, the intellectual leader of Catholic progressivism, after saying that he did not expect a Gorbachev in the Vatican, immediately lit a candle for Bergoglio. He was not the only one. Cristina Kirchner forgot her recent clashes with the enemy of abortion, divorcees, and gays to rush and greet the man of Argentine reaction on the throne of Peter. The “liberation theologians,” in turn, did not even wait for Francis’ visit to Brazil. The Argentine oligarchic newspaper *La Nación*, on the other end of the political spectrum, made it clear that, in the “pedophilia” category, Francis “never spoke out.”
Cardinal Bergoglio was elected on March 13, 2013, on the second day of the conclave, choosing the name Francis. His election seems to have been the result of an agreement among the Curia men, specifically the Dean of the College of Cardinals, Angelo Sodano (who did not participate in the conclave), the cardinals Giovanni Battista Re and Tarcisio Bertone, and the American cardinals. He was the first Jesuit to be elected pope, the first pope from the American continent, from the Southern Hemisphere, and the first non-European to be invested as Bishop of Rome in more than 1,200 years, since Gregory III, who was born in Syria and governed the Catholic Church between 731 and 741.
The Jesuit order waited almost five centuries: it was recognized by the Vatican in 1540, during the development of the Protestant and Calvinist divisions (Ignatius of Loyola, its founder, coexisted at the University of Paris with Jean Calvin himself). It had been constituted shortly before as a “warrior order” in service of the pope and the expansion of faith in Christ: the *Societas Jesu*, or “Order of Jesus” (as its founder called it) was organized as an army, commanded by a lifetime general to whom absolute obedience was owed; a worldwide army in defense of the Roman Church during the Counter-Reformation.
In the global campaign to lift the Catholic Church, building a positive and “renewing” image of the new pope, representatives from both the most reactionary clergy to former members of Liberation Theology converged. Brazilians Leonardo Boff and Frei Betto spared no arguments in creating expectations for the new pope, including the fact that he was a member of the Jesuit congregation and his relationship with certain “progressive” movements within the Church. Boff celebrated Bergoglio’s election because “a Jesuit has a well-formed mind” to “renew” the Catholic leadership.
For now, there have been no reforms or “renewal,” beyond symbolic gestures widely covered by the media. However, the change in IOR leadership and the announcement of a reform in the Curia have already sparked a crisis that extends beyond the borders of the Church. A prosecutor from Reggio Calabria (Nicola Gratteri), a member of the Italian state commission against organized crime, warned that tampering with the Church’s financial structure means tampering with the mafia, and that it could resort to its most usual methods against the pope himself if its interests are touched. A journalist from the highly conservative *Corriere della Sera*, specializing in religious issues, published a book announcing the imminent failure of “Pope Francis’ revolution” due to the internal pressure the Church is facing from numerous and powerful conservative groups (Legionaries of Christ, Focolari, Opus Dei, Sant’Egidio Community, Neocatechumenal Way, Communion and Liberation, etc.), pressure that is insurmountable and deeply entrenched in the heart of the Italian state.
What was seen was Pope Francis’ role as a firefighter. Francis I went to the “largest Catholic country in the world,” Brazil, where the proportion of Catholics dropped from 92% in 1970 to 65% in 2010, a decrease that benefited the mafia-like evangelical sects, which governed the country in the past decade alongside the PT. The pope was, among other things, there to contain the youth movement that invaded the Brazilian streets in June 2013, redirecting it, urging the PT government to “listen to the voice of the streets” – opening more space for the Catholic Church and reducing that of the evangelicals.
The “liberation theologians” joined this political-religious operation. The Vatican did not work for free: it put the vast papal expenses in Brazil on the state’s bill, and the evangelicals pressured the Brazilian government to reduce them. All of Bergoglio’s “openness to progressives” was reduced to a meeting in Rome with Peruvian priest Gustavo Gutiérrez, one of the formulators of Liberation Theology, in September 2013, where it is unknown what they talked about.
The unusual features of Bergoglio's pontificate, the gestures that gave rise to the current (and temporary) “Bergogliomania,” are not the solution but the *symptom* of the crisis within the Church, the deepest in centuries, which shows, beyond statements in favor of the poor and against the greed and insensitivity of the rich, that this millennial institution has forever united its future to that of capital, and will suffer the same fate. A fate that, more than ever, is being decided not in the ships of religious temples, but in the factories, offices, schools, and streets of the world.